O que fazer quando a vida entra no modo automático?

23/04/2021

Você já entrou no "modo automático"?

Outro dia eu precisava ir a um local próximo a casa dos meus pais e, em determinado momento, me dei conta que eu havia desviado meu trajeto justamente por ter entrado no modo automático e ter feito o caminho rumo a casa deles ao invés do lugar para onde deveria ir. Num lapso me desliguei do meu objetivo final e me deixei levar pelo hábito, pelo costume de seguir em determinada direção.

Quantas e quantas vezes não vivemos boa parte do nosso tempo desta mesma forma? Apenas existindo sem qualquer reflexão, sem aprofundar muito nos porquês das coisas e nas questões mais fundamentais da vida, esquecendo o objetivo final ou até mesmo desconhecendo a existência de um.

Já pensou em quantos por cento do seu dia você vive no automático? Quanto da sua vida escapa por entre seus dedos sem que você ao menos perceba?

A medida em que entramos nesse modo, geralmente, uma sensação de estagnação invade nosso ser. Sentimos que, ainda que estejamos nos mexendo, não estamos indo para lugar nenhum. Bate aquele desespero de estarmos desperdiçando nossas vidas. Já passou por isso e se sentiu assim ou só aconteceu comigo?

Alguns culpam a rotina e dizem que a vida é chata porque é sempre a mesma coisa. A solução então é se jogar em algum tipo de aventura que desperte a sensação de estar vivo. Mas será mesmo que é tudo sempre igual?

Será que permanecemos iguaizinhos de um dia para o outro? Não aprendemos nada, não nos desenvolvemos um pouco mais em alguma coisa, não adquirimos nenhum conhecimento, não somos influenciados por nada nem ninguém num intervalo de 24 horas? Ainda que nossos dias sejam extremamente parecidos, eles nunca são exatamente iguais. Nós nunca permanecemos exatamente iguais.

Quando deixamos de enxergar a rotina como dádiva, nossa relação com a felicidade é alterada. Abandonamos a noção de felicidade como cultivo e passamos a enxergar como consumo (consumo de bens materiais, de drogas, de comida, de bebida, de uns dos outros, de sexo, etc.).

Devoramos vorazmente tudo a nossa volta. Engolidos pelo tédio e insatisfação existenciais, perdemos totalmente o prazer pelo ordinário, pela vida comum. Ligamos o modo automático e já nem vemos mais a vida passar. É uma espécie de stand-by onde parece que tudo fica suspenso. E assim seguimos nesse ciclo vicioso.

A saída não é fugir da vida, mas exatamente o oposto! É insistir nela. É deixar a beleza da realidade da criação revelar o Criador. É se lançar no dia-a-dia entendendo cada momento como um presente único de Deus para nós. É caminhar na verdadeira Esperança tanto nos dias em que a vida flui como naqueles em que tudo parece não sair do lugar. É obstinadamente lutar para sair do modo automático e se lançar na vida, se engajar na existência. É insistir em viver.